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08/10/2025
O crescimento do uso de redes sociais e aplicativos entre crianças e adolescentes trouxe uma nova forma de violência que preocupa pais e educadores: o cyberbullying. Essa prática ocorre quando ofensas, humilhações ou ameaças são feitas no ambiente digital, por meio de mensagens, postagens, comentários, vídeos ou grupos de conversa. Diferente do bullying tradicional, que se limita ao espaço físico, o cyberbullying ultrapassa os muros da escola e invade o cotidiano da vítima, que pode ser atacada a qualquer hora, em qualquer lugar.
A característica mais grave desse tipo de agressão é a sua continuidade. Uma vez publicada, uma ofensa pode ser compartilhada por dezenas de pessoas e permanecer online por tempo indeterminado. O alcance e a permanência tornam o impacto emocional ainda mais forte, principalmente entre os jovens, que sentem vergonha, medo e ansiedade diante da exposição.
Como o cyberbullying afeta crianças e adolescentes
Os efeitos psicológicos do cyberbullying são intensos. A vítima costuma se sentir isolada, impotente e envergonhada, o que pode gerar reações como irritabilidade, queda no desempenho escolar, falta de apetite, insônia e recusa em frequentar a escola. Casos mais graves podem evoluir para depressão, automutilação e até pensamentos suicidas.
O ambiente virtual, muitas vezes sem limites claros, potencializa o sofrimento. Quando a agressão vem acompanhada de exposição pública — como fotos, vídeos ou boatos — a dor emocional se torna ainda mais profunda. Crianças e adolescentes podem desenvolver medo de se conectar, apagar perfis, evitar amigos e até perder o interesse por atividades que antes gostavam.
A tecnologia amplia a voz de quem pratica a violência e, ao mesmo tempo, silencia a vítima. Esse contraste faz com que o apoio familiar e o acompanhamento emocional se tornem fundamentais. “As crianças precisam saber que não estão sozinhas e que o erro nunca está em quem sofre o ataque, mas em quem pratica a agressão”, afirma Cleunice Fernandes, coordenadora geral do Colégio Alternativo, de Sinop (MT).
Sinais de alerta que os pais devem observar
O comportamento da vítima costuma mudar de forma perceptível. Se a criança ou adolescente passa a evitar o uso do celular, demonstra tristeza repentina após acessar a internet ou se afasta dos amigos, é preciso atenção. Alterações no sono, no apetite e nas notas escolares também podem indicar que algo está errado.
Muitos jovens não contam o que estão vivendo porque temem ser punidos, julgados ou perder o acesso às redes. Por isso, o diálogo aberto e sem acusações é o primeiro passo para a prevenção. Criar um ambiente de confiança, onde o filho possa relatar o que acontece sem medo, é essencial para que ele se sinta acolhido e protegido.
Outro ponto importante é manter uma rotina de acompanhamento saudável do uso da internet. Isso não significa vigilância extrema, mas sim interesse e presença. Conversar sobre o que ele vê, com quem interage e quais conteúdos consome ajuda a identificar comportamentos suspeitos ou situações de risco.
O que fazer quando o cyberbullying acontece
Ao perceber que seu filho está sendo vítima, a atitude mais importante é agir com calma e empatia. O acolhimento vem antes de qualquer outra medida. É fundamental deixar claro que a culpa não é dele e que a família vai cuidar do caso com seriedade.
Depois do acolhimento emocional, os pais devem reunir provas das agressões — capturas de tela, mensagens, links e perfis dos agressores —, evitando responder diretamente às ofensas. Esse material pode ser usado em denúncias e registros oficiais. Caso as agressões envolvam colegas de escola, é importante comunicar a instituição para que ela também possa agir preventivamente.
“Quando a escola é informada com clareza, consegue agir com mais rapidez e cuidado, oferecendo apoio emocional e orientação aos envolvidos”, explica Cleunice Fernandes. Ela destaca que, além de lidar com o caso específico, é importante promover conversas educativas sobre respeito e responsabilidade digital entre os estudantes.
Nos casos mais graves — como ameaças, divulgação de imagens íntimas, chantagem ou perseguição —, é recomendável registrar boletim de ocorrência. A legislação brasileira reconhece o cyberbullying como forma de violência e prevê punições aos responsáveis.
O que diz a lei brasileira
O Brasil possui instrumentos legais que amparam as vítimas de cyberbullying. O Código Penal enquadra a prática nos crimes contra a honra, como injúria, calúnia e difamação. A Lei 13.185/2015, conhecida como Lei de Combate à Intimidação Sistemática, considera o cyberbullying uma forma de violência e prevê medidas educativas e punitivas para combatê-lo.
Outro ponto importante é o artigo 218-C do Código Penal, que trata da divulgação de imagens íntimas sem consentimento. Esse crime, conhecido popularmente como “revenge porn”, prevê pena de reclusão e é uma das formas mais graves de exposição digital.
Essas leis reforçam que a internet não é uma terra sem regras. Mensagens ofensivas, montagens, comentários humilhantes e compartilhamentos indevidos têm consequências legais e podem ser denunciados.
A importância da prevenção e da educação digital
A melhor forma de combater o cyberbullying é agir antes que ele aconteça. A educação digital deve começar em casa, com conversas francas sobre respeito, empatia e privacidade online. Ensinar desde cedo que nem tudo pode ser publicado e que o outro deve ser respeitado mesmo no ambiente virtual é uma lição que evita muitos conflitos.
As famílias também podem orientar os filhos sobre boas práticas digitais, como não compartilhar senhas, desconfiar de mensagens suspeitas e não enviar fotos pessoais a desconhecidos. Incentivar o uso responsável das redes e supervisionar o tempo de conexão ajudam a criar uma relação mais equilibrada com a tecnologia.
A escola, por sua vez, tem papel decisivo nesse processo. Quando o tema é discutido em sala de aula, com atividades que envolvem empatia, convivência e cidadania, os alunos aprendem a reconhecer os limites e as consequências de seus atos. Mais do que proibir, o objetivo é ensinar o uso consciente da internet, formando cidadãos capazes de interagir com respeito e responsabilidade.
Como acolher a vítima
A criança ou o adolescente que sofre cyberbullying precisa ser ouvido com paciência e atenção. Interromper o ciclo de agressões é fundamental, mas o suporte emocional é igualmente importante. A terapia psicológica, por exemplo, pode ajudar a restaurar a autoconfiança e a reorganizar o equilíbrio emocional.
Em casa, o diálogo deve continuar constante. É preciso reforçar que ela não está sozinha, que pode contar com os adultos e que existem caminhos legais e seguros para resolver o problema. Acolher sem minimizar a dor é um gesto que devolve à vítima o sentimento de segurança.
O acompanhamento deve incluir também a observação das reações cotidianas. Se a criança continuar retraída, sem vontade de sair ou interagir, o acompanhamento psicológico torna-se indispensável. A violência digital pode deixar marcas duradouras, mas o apoio contínuo da família faz diferença no processo de recuperação.
O papel das redes e da sociedade
As plataformas digitais também têm responsabilidade na prevenção do cyberbullying. A maioria delas oferece recursos de denúncia, bloqueio e exclusão de conteúdos ofensivos. Os pais e os próprios jovens devem aprender a usar essas ferramentas sempre que se depararem com situações de violência virtual.
A sociedade como um todo precisa reconhecer que o ambiente online reflete comportamentos do mundo real. Promover empatia, respeito e solidariedade nas interações digitais é uma forma de construir uma cultura de convivência mais saudável. Combater o cyberbullying não é apenas reagir às agressões, mas cultivar diariamente valores que impeçam que elas aconteçam.
O cyberbullying é uma das formas mais cruéis de violência entre jovens, porque atravessa fronteiras e alcança as vítimas em seus espaços de intimidade. Combater esse problema exige diálogo, atenção e ação conjunta entre família, escola e sociedade.
Quando os pais se mantêm próximos, observam os sinais e acolhem com empatia, tornam-se o principal suporte para a recuperação emocional dos filhos. A escuta ativa, a orientação sobre o uso responsável da internet e o fortalecimento da autoestima são caminhos eficazes para proteger e reconstruir a confiança das vítimas.
Para saber mais sobre cyberbullying, visite https://www.todamateria.com.br/cyberbullying/ e https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/cyberbullying.htm