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19/09/2025
O diagnóstico da miopia infantil começa muito antes da consulta ao oftalmologista. Pais e professores costumam ser os primeiros a perceber sinais de dificuldade visual nas crianças, seja porque elas reclamam de não enxergar o quadro na escola, aproximam-se demais da televisão ou franzem os olhos para tentar focar objetos distantes. Esse olhar atento é essencial, pois identificar o problema cedo aumenta as chances de controlar sua progressão e garantir qualidade de vida ao longo da infância e adolescência.
Entre os sinais mais comuns da miopia infantil estão a dificuldade para enxergar de longe, o hábito de aproximar-se demais de livros ou telas, dores de cabeça após atividades visuais prolongadas, olhos vermelhos e cansaço ocular. Algumas crianças podem fechar um dos olhos para tentar melhorar a visão ou evitar brincar ao ar livre porque não conseguem acompanhar os colegas em atividades que exigem visão à distância.
Esses comportamentos, muitas vezes sutis, podem passar despercebidos em casa, mas tornam-se evidentes na escola, quando a criança precisa ler o quadro ou acompanhar apresentações à distância. É por isso que professores desempenham um papel importante na detecção precoce do problema, comunicando os pais quando percebem qualquer dificuldade visual.
O diagnóstico da miopia é simples, rápido e indolor. Mesmo crianças que ainda não sabem ler ou verbalizar bem podem ser avaliadas com equipamentos adequados para cada faixa etária. A recomendação de sociedades médicas é que todas as crianças façam pelo menos um exame oftalmológico completo antes de ingressar na escola e, a partir daí, passem por avaliações anuais, independentemente de apresentarem sintomas.
Esse cuidado é essencial porque algumas alterações visuais não causam queixas imediatas, mas podem impactar o aprendizado e o desenvolvimento global. Um exemplo é o estrabismo, que às vezes acompanha graus mais altos de miopia e pode prejudicar a visão binocular e a percepção de profundidade.
Durante a avaliação oftalmológica, o especialista realiza uma série de exames para confirmar o diagnóstico e determinar o grau da miopia. Entre os principais estão a refração, feita com aparelhos que medem o erro refrativo do olho, e a ceratometria, que avalia a curvatura da córnea.
Outro exame importante é a fundoscopia, utilizada para verificar a saúde da retina e identificar possíveis complicações associadas a graus mais altos de miopia. Em alguns casos, o médico pode usar colírios para dilatar a pupila, o que permite avaliar melhor a estrutura interna do olho e obter medições mais precisas. Cleunice Fernandes, coordenadora geral do Colégio Alternativo, de Sinop (MT), explica que “a realização periódica de exames oftalmológicos é fundamental para detectar problemas visuais antes que afetem o desempenho escolar e a autoestima das crianças”.
A miopia tem origem multifatorial, envolvendo aspectos genéticos e ambientais. Crianças com pais míopes apresentam maior probabilidade de desenvolver o problema, mas os hábitos de vida modernos têm contribuído para o aumento expressivo dos casos em todo o mundo.
O tempo prolongado em ambientes internos, especialmente diante de telas de computadores, tablets e celulares, está entre os principais fatores de risco identificados por especialistas. Esse comportamento reduz a exposição à luz natural e sobrecarrega a visão de perto, duas condições que favorecem o alongamento do globo ocular — característica anatômica da miopia.
Estudos também indicam que a prática regular de atividades ao ar livre ajuda a proteger a visão. A exposição à luz solar estimula a produção de dopamina na retina, neurotransmissor que atua na regulação do crescimento ocular. Por isso, incentivar brincadeiras externas, esportes e contato com a natureza é uma das medidas mais recomendadas para prevenir ou retardar a progressão da miopia.
Crianças com miopia não diagnosticada podem enfrentar dificuldades significativas na escola. Problemas para enxergar o quadro, ler textos projetados ou acompanhar atividades à distância afetam o aprendizado e podem gerar queda no rendimento escolar. Além disso, a frustração por não conseguir realizar tarefas visuais com facilidade pode impactar a autoestima e a motivação para participar das aulas.
Em casa, o problema pode se manifestar quando a criança se aproxima demais da televisão, pede para aumentar o tamanho das letras em dispositivos eletrônicos ou evita brincadeiras que exigem visão à distância. Reconhecer esses sinais e buscar ajuda especializada é essencial para evitar prejuízos acadêmicos e sociais.
Uma vez confirmado o diagnóstico, o tratamento da miopia infantil é definido de acordo com o grau, a idade da criança e a velocidade de progressão do problema. O uso de óculos é a forma mais comum e segura de corrigir a visão. Em alguns casos, especialmente em crianças mais velhas e responsáveis, o oftalmologista pode indicar lentes de contato.
Nos últimos anos, novas estratégias de controle da progressão da miopia têm sido estudadas. Entre elas estão colírios de atropina em baixas concentrações, que demonstraram bons resultados para reduzir a velocidade de crescimento do globo ocular. Outra opção são as lentes ortoceratológicas, conhecidas como “lentes de uso noturno”, que remodelam temporariamente a córnea durante o sono, proporcionando visão nítida durante o dia e auxiliando no controle do avanço do grau.
Cleunice Fernandes reforça que “quanto mais cedo o tratamento é iniciado, maiores são as chances de controlar a evolução da miopia e evitar complicações na vida adulta”.
A miopia infantil tende a progredir até o final da adolescência, quando o crescimento do olho se estabiliza. Quanto mais alto o grau, maior o risco de complicações futuras, como descolamento de retina, glaucoma, catarata precoce e degeneração macular miópica — condições que podem levar à perda parcial ou total da visão.
Por isso, além de corrigir a visão no presente, os tratamentos visam reduzir a progressão da miopia para proteger a saúde ocular a longo prazo. O acompanhamento regular com o oftalmologista é essencial para ajustar as condutas terapêuticas e garantir a eficácia das intervenções adotadas.
Medidas simples no dia a dia ajudam a reduzir os riscos de desenvolvimento e progressão da miopia. Limitar o tempo de uso de telas, oferecer iluminação adequada para leitura, promover atividades ao ar livre por pelo menos duas horas diárias e estimular pausas visuais durante tarefas prolongadas são recomendações amplamente aceitas por especialistas.
A chamada “regra 20-20-20” é uma das orientações mais práticas: a cada 20 minutos em frente a uma tela, a criança deve fazer uma pausa de 20 segundos olhando para um objeto a 20 pés de distância, ou cerca de seis metros. Essa mudança de foco ajuda a relaxar os músculos oculares e reduz a fadiga visual.
Além disso, manter uma alimentação equilibrada, rica em vitaminas A, C e E, e em minerais como zinco e selênio, contribui para a saúde dos olhos. Embora não impeçam o surgimento da miopia, esses nutrientes ajudam a manter a integridade das estruturas oculares e favorecem uma visão saudável.
Famílias e educadores têm papel essencial no cuidado com a visão das crianças. Observar mudanças de comportamento, quedas no desempenho escolar ou queixas visuais permite identificar precocemente possíveis alterações.
As escolas podem colaborar oferecendo salas de aula bem iluminadas, materiais com boa legibilidade e incentivo a atividades ao ar livre durante os intervalos. Programas de conscientização sobre saúde ocular ajudam a criar uma cultura de prevenção, garantindo que mais crianças tenham acesso a exames e tratamentos quando necessário.
Para saber mais sobre miopia, visite https://drauziovarella.uol.com.br/oftalmologia/cresce-o-numero-de-criancas-com-miopia/ e https://pequenoprincipe.org.br/noticia/diagnostico-precoce-da-miopia-favorece-saude-ocular/